Disparates dos Valores
No Brasil as coisas ocorrem com certo caráter de facilidade para
alguns setores da classe produtiva, chega-se ao ponto de tornar-se risível a
relação entre o governo e alguns segmentos produtivos, como no caso específico
da indústria automobilística, que aufere vantagens fiscais para o setor, de uma
forma acintosa, utilizando a alegação primária, antiga e infantil de que o
setor por ser o grande gerador de empregos da economia, o que não deixa de ser
verdade, deve ser bafejado em conjunturas de crise econômica pelo Estado,
através de renúncias fiscais.
Vejam por exemplo, o caso de mais uma vez ocorrer à concessão
da prorrogação do IPI reduzido para os automóveis, são recursos que o Estado
brasileiro deixa de arrecadar, para aportá-lo na iniciativa privada. Tais
recursos poderiam ser canalizados para as políticas públicas governamentais,
com o fito de mitigar a gritante desigualdade de renda que grassa no país, no entanto,
eles são drenados para as montadoras alavancarem ainda mais os seus
astronômicos lucros, sem que ocorra uma contrapartida de sacrifício por parte
delas, como uma possível diminuição de parte das suas margens de lucros, que se
destacam no Brasil como as maiores do mundo, medida que refletiria no curto
prazo, na queda dos preços dos veículos vendidos.
Pesquisa divulgada recentemente, em vários jornais do país, deixa
claro que o consumidor brasileiro paga altos valores pelos carros adquiridos no
mercado interno, quando comparados aos mesmos modelos, dos que são vendidos em
outros países, inclusive em países da América Latina. Em alguns desses modelos
os preços chegam a dobrarem.
As alegações das montadoras para justificar as majorações de preços,
são imensas e diversas, como por exemplo, o alto custo de mão de obra,
combinado com a alta carga tributária, a falta de competitividade, além como já
foi citado acima, da alta margem de lucro, que se configura como à maior do
mundo.
Concordo com a aludida pesquisa, pois aceito todos os
argumentos ali ressaltados para justificar a oneração da estrutura de custo de
produção dos carros. Até posso concordar com a margem de lucro praticada no
mercado interno brasileiro, que chega a 10% do preço final do produto, enquanto
na Argentina é de 5% e nos Estados Unidos de 3%. O que não dar para aceitar, é que
mais uma vez o contribuinte brasileiro, assuma essa fatura.
Além do mais, no Brasil, a concentração de renda continua
muito grande, com milionários brasileiros figurando nas grandes revistas
internacionais, no ranking daqueles que possuem as maiores fortunas mundiais, ao
se verificar a origem desses patrimônios, a maioria deles são rendas
apropriadas do Estado brasileiro, através de facilidades fiscais concedidas por
governos comprometidos com o grande capital.
Todavia, não se pode
deixar de mencionar, a contradição do sistema capitalista, que em dado momento utiliza-se
a bandeira da defesa da livre concorrência, considerando o Estado um impostor, por
sua vez, quando os seus interesses da lógica do lucro são feridos, lembram logo
da mão do Estado para socorrê-lo, e consequentemente manter as suas benesses.
Não dar para acreditar neste discurso contaminado pelo viés
do liberalismo econômico, bem no estilo Adam Smith, onde as grandes corporações
ao longo da história criticam a inserção Estado na economia, isso enquanto os
seus interesses não entrarem em jogo. Quando entram, eles se esquecem do
arcabouço teórico que norteiam as suas atividades negociais. Como assistimos
recentemente na crise financeira americana de 2008, as grandes montadoras de
veículos serem também salvas pelo contribuinte. Ou seja, são grandes demais
para poderem “quebrar”. É verdade!