Valor: A Comissão da Verdade não chega
tardiamente?
Werneck Vianna: A minha posição não
acompanha as posições majoritárias aí na intelligentsia. Acho que a gente deve
recuperar a história, mas o passado passou. Página virada. Cada país fez, em
circunstâncias diferentes. Você, à esta altura, rasgar a Lei da Anistia, seria
jogar o país numa crise, não sei para quê.
Valor: E para conhecer as circunstâncias
das mortes, sem punição, como aprovado?
Werneck Vianna: Isso deve existir, com
estes limites.
Valor: Os militares recorrem sempre à
acusação de revanchismo.
Werneck Vianna: Mas, vem cá, as grandes
lideranças que nos trouxeram à democracia tiveram muito clara essa questão:
anistia real, geral e irrestrita. As forças derrotadas, ou seja, a luta armada,
querem reabrir esta questão? Não foram elas que nos trouxeram à democracia. Nos
momentos capitais, ela não estava à frente, na luta eleitoral, na luta política,
na Constituinte. Era um outro projeto.
Valor: Por isso ela é menos legítima para
reivindicar investigações sobre o período?
Werneck Vianna: É politicamente
anacrônica. O país foi para frente. Tem uma ex-prisioneira política na
Presidência da República. Altos dignitários da administração têm a mesma origem
que ela.
Valor: Os direitos humanos não deveriam
estar além do conflito entre projetos à esquerda ou à direita?
Werneck Vianna: Os direitos humanos dizem
respeito aos vivos. Aos mortos, o velho direito de serem enterrados como
Antígona [protagonista da tragédia grega de Sófocles] quis enterrar o irmão em
solo pátrio. É o que esta Comissão da Verdade está fazendo.
Luiz Werneck Vianna, sociólogo,
professor-pesquisador da PUC-Rio. Entrevista: "Dilma será constrangida à
infidelidade", Valor Econômico, 10/1/2012