“Os
indicadores da ressurgência da síndrome característica dos nossos ciclos
anteriores de modernização não se fazem esconder, pois estão aí na forma de um
capitalismo politicamente orientado, no retorno às políticas e ao feitio da
nossa tradição de centralização administrativa — a Federação míngua a olhos
vistos —, nas relações entre o Estado e as grandes empresas — agora, chamadas de
empresas-líderes —, na fusão entre economia e política, e, principalmente, nas
práticas de um decisionismo mal camuflado nas operações do nosso dito
presidencialismo de coalizão, que, na verdade, garantem ao executivo, pelo uso
indiscriminado de medidas provisórias, capacidade de intervir sobre a sociedade
sem que haja prévia deliberação, sem que se aponte para onde se quer ir. A
propósito: qual o nexo necessário entre uma política de alcance social, como a
erradicação da miséria, por exemplo, com o projeto grão-burguês de expansão do
capitalismo brasileiro na economia-mundo?
Recaímos, quase sem sentir, nas malhas da nossa
história, e a ironia está em que isso nos ocorre no momento em que tudo indicava
que estávamos prontos para nos liberar dela. É verdade que no papel, com a Carta
de 88, demos um passo importante nessa direção, mas a dimensão sistêmica, como
nós, sociólogos, designamos os processos de reprodução da vida material nas
sociedades do moderno capitalismo, tem nos escapado das mãos e segue seu curso
autopoieticamente.”
Luiz Werneck Vianna, sociólogo,
professor-pesquisador da PUC-Rio. Modernização, questão agrária e República.
Gramsci e o Brasil, janeiro,2012.
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