segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Retirado do Blog Democracia Política e Novo Reformismo

Valor: A Comissão da Verdade não chega tardiamente?



Werneck Vianna: A minha posição não acompanha as posições majoritárias aí na intelligentsia. Acho que a gente deve recuperar a história, mas o passado passou. Página virada. Cada país fez, em circunstâncias diferentes. Você, à esta altura, rasgar a Lei da Anistia, seria jogar o país numa crise, não sei para quê.



Valor: E para conhecer as circunstâncias das mortes, sem punição, como aprovado?



Werneck Vianna: Isso deve existir, com estes limites.



Valor: Os militares recorrem sempre à acusação de revanchismo.



Werneck Vianna: Mas, vem cá, as grandes lideranças que nos trouxeram à democracia tiveram muito clara essa questão: anistia real, geral e irrestrita. As forças derrotadas, ou seja, a luta armada, querem reabrir esta questão? Não foram elas que nos trouxeram à democracia. Nos momentos capitais, ela não estava à frente, na luta eleitoral, na luta política, na Constituinte. Era um outro projeto.



Valor: Por isso ela é menos legítima para reivindicar investigações sobre o período?



Werneck Vianna: É politicamente anacrônica. O país foi para frente. Tem uma ex-prisioneira política na Presidência da República. Altos dignitários da administração têm a mesma origem que ela.



Valor: Os direitos humanos não deveriam estar além do conflito entre projetos à esquerda ou à direita?



Werneck Vianna: Os direitos humanos dizem respeito aos vivos. Aos mortos, o velho direito de serem enterrados como Antígona [protagonista da tragédia grega de Sófocles] quis enterrar o irmão em solo pátrio. É o que esta Comissão da Verdade está fazendo.



Luiz Werneck Vianna, sociólogo, professor-pesquisador da PUC-Rio. Entrevista: "Dilma será constrangida à infidelidade", Valor Econômico, 10/1/2012

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