Apesar de toda a sua insistência na
cientificidade, Otto Bauer [1882-1938] e Rudolf Hilferding [1877-1941], Karl
Renner e Max Adler se consideravam intelectuais de partido, que se submetiam à
coação
disciplinadora da tática e da organização,
quando o momento assim o exigia. Mas, como democratas, faziam uma idéia
inteiramente distinta do papel do partido do que o Lukács leninista em História
e
consciência de classe.
Seja como for, a figura do intelectual de
partido pertence ao meio hoje já histórico dos partidos que perfilhavam uma
visão de mundo esquerdista. Após 1945, esse tipo não pôde mais subsistir no
Ocidente.
Os sem-partido
Diante desse fundo, o tipo do intelectual
contemporâneo, sobre o qual pretendo falar, adquire contornos muito nítidos: os
intelectuais que entraram em cena depois de 1945 — tais como Sartre, Adorno e
Marcuse, Max Frisch e Heinrich Böll — tendem a se assemelhar aos modelos mais
antigos dos escritores e professores universitários que tomam partido, mas não
estão vinculados a nenhum partido.
Sem serem perguntados, isto é, sem mandato nem
votação, eles se deixam provocar pela ocasião a fazer um uso público do seu
saber profissional além dos limites da sua profissão. Sem a pretensão a um
estatuto elitista, não podem invocar outra legitimação senão o papel do
cidadão
democrata.
Jürgen Habermas, filósofo alemão. O caos da
esfera pública. Folha de S. Paulo, 15/8/2006.
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