Alguns analistas ressaltam a “simplificação”
do quadro partidário mediante um bipartidarismo informal entre PT e PSDB
(sintetizado nas últimas cinco disputas presidenciais), que, inclusive, passou a
reorientar a conduta destes e de seus aliados nas disputas estaduais. Em sua
opinião, essa tendência deve continuar nas próximas eleições ou é possível
projetar novas disputas com novos atores? O PSD pode alterar essa dinâmica?
“Tanto quanto eu possa prever, a tendência no
futuro imediato é de manutenção da polarização. Além de quadros, o PSDB tem o
controle de vários estados importantes da federação, o que faz dele um
adversário relevante. Não creio, porém, que possa se sustentar a médio prazo
apenas nisso. Terá que sair do canto do ringue, seja na direção da “sociedade
organizada”, seja na direção de partidos à sua esquerda. Se não fizer isso,
tenho a impressão de que terá poucas chances de sucesso ao enfrentar o PT. Mesmo
se Lula não for o candidato em 2014.
Em relação ao PSD, não me parece que agregue
muito. Deverá ser mais um partido clientelista entre outros. Aliás, esta
polarização PT e PSDB pode organizar as alternativas disponíveis, mas enfraquece
no plano político-institucional o impulso de mudança que vem da sociedade. Estes
impulsos democratizantes e liberalizantes — que se expressam em doses diferentes
naqueles partidos — têm sempre que se acomodar ao particularismo clientelista
dominante nos demais partidos. Veja, não estou dizendo que PSDB e PT estão
imunes ao clientelismo, mas que ainda têm capacidade de lutar por objetivos mais
marcados pelo universalismo. ‘
Brasílio Sallum Jr., professor titular de
Sociologia da Universidade de São Paulo. É autor de uma das mais completas
interpretações da transição para a democracia no Brasil: em uma, Labirintos
(Hucitec, 1996). Entrevista: Desenvolvimento e desenvolvimentismo. Gramsci e o
Brasil, dezembro de 2011.
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